Conheci o Piangers pelo instagram e definitivamente ele é a melhor definição de pai fora da caixa que eu conheço. Seus livros são inspiração para milhares de famílias! Marido da Ana e pai da Anita e da Aurora deu uma entrevista super bacana para o blog!
Piangers obrigada por compartilhar sua paternidade com o mundo e estimular tantos pais a refletirem sobre esse assunto.
MFC: Como foi o início da paternidade na sua vida? Em que momento sentiu realmente a “real” de ser pai?
MP: Foi na primeira noite que eu passei sozinho com a Anita. A minha mulher estava muito cansada depois do parto que foi uma cesariana em um domingo. Aquela primeira noite foi bem impactante porque do nada tive que aprender a fazer uma criança dormir, trocar fralda, limpar. A primeira noite não tem nada de romântico nem de bonito. É sim cansativo e desafiador. Foi uma noite bastante complicada que eu tive que aprender a ser pai. A partir dali sempre alternei com a minha mulher na hora de acordar de madrugada, ela amamentando e eu fazendo as minhas filhas dormirem. A paternidade é um processo de descoberta constante até hoje para mim. Depois de 11 anos ainda aprendo a ser pai com as minhas filhas. Basta prestar atenção no que elas fazem e dizem, é algo extremamente edificante. Ser pai me ajuda a ser uma pessoa mais atenciosa, mais paciente e melhor.
MFC: Quando percebeu que falar da questão da paternidade pudesse virar um trabalho e um incentivo para muitos pais?
MP: Ainda não acho que é um trabalho. Ainda não achei uma forma de viver disso. Adoro ajudar pais através dos livros e das palestras. Me esforço para ser uma referência e poder ajudar sempre! Para ser bem sincero eu aprendo muito mais do que ensino. Falo das minhas experiências mas também ouço muitos pais falarem das deles e acabo anotando essas experiências para aprender. Eu tenho muitas dúvidas, questões e inseguranças principalmente com relação a adolescência e aprendo muito. É incrível como a gente, muitas vezes, aprende com a prática. Acho que talvez esso tenha sido o pulo do gato do meu livro “O Papai é pop”. Eu não esperava que as pessoas fossem se engajar tanto, mas as experiências que eu tive com as minhas filhas e descrevi no livro foram incentivadoras para outros pais serem mais participativos mas principalmente para eles aprenderem um pouco sobre essa visão mais atenciosa e simplificada da paternidade. Às vezes a gente acha que tem que ter o melhor carro, o melhor apartamento, a melhor creche pelos filhos. Mas na verdade o que a gente precisa é basicamente estar por perto, ser um pai presente e atencioso. Isso tem sido um aprendizado para mim e para vários outros pais. Cada vez que que um pai me conta uma história é um aprendizado para mim. Muitas vezes é mais aprendizado do que aprender na teoria através de uma bibliografia.
MFC: Falo muito sobre essa questão do papel do pai aqui no mãe fora da caixa. Porque você acha que ainda é difícil para muitos homens quererem abraçar o papel da paternidade? Você não acha que muitas vezes são as próprias mulheres que não deixam esses pais entrarem?
MP: Porque a gente não foi treinado para isso, ninguém nos incentiva a ser pai. Desde pequeno nenhum pai e nenhuma mãe diz assim: Filho um dia você vai encontrar uma garota especial e vai tratar ela bem, vai ser tornar o marido dela e vai ter uma família. Vai ser pai e vai ter que cuidar do seu filho. Os meninos ouvem muito pouco sobre a paternidade. Por isso os homens tem muito medo e fazem muita piada com esposa, com sogra. É uma forma de proteção. A gente tem medo porque não somos preparados nem incentivados, nossos amigos não são parceiros nisso. Foi muito solitário para mim durante um tempo ser pai e gostar de ser pai porque eu não via nos meus amigos esse brilho e essa vontade. Mas depois que eu comecei a falar disso muito pais e amigos meus resolveram falar também sobre o assunto. Isso se tornou ao que me parece uma marca do nosso tempo de pais que precisam de um empurrão e uma referência para de fato terem esse orgulho de serem pais.
MFC: Você não acha que muitas vezes são as próprias mulheres que não deixam esses pais entrarem?
MP: Acho que na maioria das vezes é o próprio pai que não quer entrar. Mas acho que tem mulheres que não incentivam os homens a entrarem, que acham que só o jeito delas é o certo e acham que o homem que tem que se adaptar ao jeito dela. Mas na verdade se você quer um pai participativo para o seu filho você tem que deixar ele aprender. Deixa ele com o filho a sós por um fim de semana para ele ir lidando e descobrindo até o valor e o romantismo do dia a dia da trivialidade do cotidiano. Acho que isso pode ser bem benéfico para o seu marido, para o seu filho e para o relacionamento de vocês.
MFC: O seu livro “O Papai é Pop” é um sucesso! Com certeza mudou a maneira de vários homens e mulheres enxergarem a paternidade. Tem algum relato especial de leitor para nos contar?
MP: Tenho sim. Faço uma palestra sobre o livro, e nessa palestra falo de todas as pessoas que de alguma forma me tocaram com histórias relacionadas com “O Papai pop”. Falo desde a história da Renata que mesmo sem estar grávida pediu para eu fazer uma dedicatória para o marido assim: “Eduardo você vai ser pai, vai ser incrível, Piangers”. Ela guardou o livro em uma gaveta e assim que descobriu que estava grávida contou sobre a notícia entregando o livro para ele. A Tati também fez a mesma coisa escreveu uma dedicatória e entregou o livro para o marido. “Pensei em mil maneiras de te contar porém sou muito ansiosa assim como você, nosso amor está sendo gerado dentro de mim. Parabéns você vai ser papai!’. Além da dedicatória ela colou o teste de gravidez na primeira página do livro. Tem também uma grávida que pediu para eu escrever uma dedicatória para o marido contando que o bebê era um menino: “Diga bem-vindo ao José Paulo.” Recebi uma mensagem de um homem que não queria ser pai e por causa do livro decidiu que seria. Ele me escreveu: “A emoção me venceu e assim ao término desse livro, o primeiro que li de capa a contra capa, mudo o rumo dos meus pensamentos. Decidi que quero viver um pouco de tudo isso, esse mundo de ser pai e mãe. Que Deus me abençoe com a graça de poder gerar um bebê.” Tem muitas pessoas mudando a forma de enxergar a paternidade. Todos os dias recebo muitos e-mails de pais. Mas tem um que eu gosto de contar. Uma mãe que estava separada, o marido tinha dito que era muito jovem para ser pai ela estava criando a filha sozinha. Ela deu o livro para o Ivan e ele decidiu mudar completamente de vida e ser um pai participativo. Esse tipo de mensagem é bem impactante. Também recebo e-mails de mulheres que se identificam com a história da minha mãe que foi mãe solteira. É muito bonito tudo isso! Divertido de aprender e emocionante de ter a honra de participar da vida de tantas famílias.
MFC: Como é a sua rotina? Como concilia o trabalho e a família?
MP: Minha rotina perfeita seria…Eu tenho um trabalho da 13:00 às 19:00 na Rádio Atlantida. Das 13:00 às 14:00 eu faço um programa de rádio, das 14:00 até as 18:00 eu faço um trabalho na área digital, redes sociais e blogs. É um trabalho de muito foco no digital e reuniões. Das 18:00 às 19:00 faço o programa “Pretinho básico” novamente. Então consigo passar todas as manhãs e todas as noites com as minhas filhas. Com o livro essa rotina está um pouco bagunçada por causa das palestras e eventos. Agora espero reorganizar isso e ter todas as manhãs e todas as noites com as minhas filhas. Cada noite que passo longe delas é uma noite perdida que não vai voltar e isso me deixa profundamente triste e angustiado.
MFC: Pelo que conheço do seu trabalho, óbvio que você coloca mesmo a mão na massa e cumpri com o seu papel. Você sempre fez tudo com as suas meninas? Desde trocar fralda até dar conselhos e ter papo cabeça?
MP: Sim. Bom, trocar fralda para mim é o básico. Nos anos 50 já devia ser feito. Infelizmente alguns homens acham isso muito revolucionário mas eu acho isso muito básico. Como dar banho, colocar uma roupa, levar para passear, dar de mamar, acordar no meio da noite, embalar até dormir, tudo isso eu acho básico. Desafiador para mim é entender a adolescência, conseguir conversar, conseguir participar de outras questões que são mais difíceis como a escola. Participar de todas as questões, ir em todas das reuniões e avaliações. Minha mulher não gosta muito de fazer isso, eu também confesso que acho um pouco chato. Eventualmente ela vai, eventualmente eu vou, às vezes não vai nenhum dos dois e isso me preocupa um pouco, acho que temos que melhorar nisso. E a adolescência…é uma angustia saber que os próximos anos vão ser de descoberta para a Anita e eu espero ser um amigo para ela.
MFC: O que você mais gosta de fazer com as suas filhas?
MP: Ficar junto, passear, andar de bicicleta, almoçar, jantar, tomar banho, pintar, desenhar, ler livros. Adoro viajar com elas, no verão estar na praia. Adoro quando estamos o dia todo juntos.
Uma cor: Amarelo
Uma pessoa: A Ana minha esposa
Um Sonho: Ficar cada vez mais perto das minhas filhas até elas cansarem de mim
Uma cidade: Floripa
Uma viagem:Tailândia passamos o Natal lá em 2015 foi mágico
Um ídolo: No cinema é o Wooddy Allen, na comédia é o Louis C.K, na música o cara do Bon Iver. Mas se tem uma pessoa que eu quero ser cada vez mais parecido é com a Ana, minha esposa.
Uma frase: “Eu nunca parei de me deslumbrar como uma criança de 8 anos de idade indo para a escola em uma manhã de primavera, tudo é capaz de me fazer parar, olhar, me deslumbrar e quem sabe talvez aprender.” Retirei do livro Cat’s Cradle de Kurt Vonnegut Jr. 1968