Tenho tanta admiração pela Maria! Gosto das idéias, da personalidade, além de amar todas as suas crônicas na TPM, que agora viraram os seus Trinta e oito e meio . O livro dela é daqueles que você fica triste quando chega ao fim, pois suas crônicas são genuínas e cheias de sensibilidade.
Com vocês, Maria:
MR: Eu gosto muito do blog de vocês, já entrei várias vezes!
MFC: Que legal saber! Pra você qual a importância das mulheres procurarem coisas que as façam felizes e realizadas fora a maternidade?
MR: Uma das coisas que me dá mais bode quando falam de mulher, é que mulher não é cúmplice, que mulher não é amiga de mulher. Acho que é muito importante a gente dividir os segredos, dividir experiências. Então o que vocês fazem no blog assim como a gente faz no saia, é abrir o que a gente já sabe, e isso é muito importante porque liberta as pessoas. Tem muita gente que ainda tem culpa de ser mão e trabalhar, então o bacana é isso: a gente poder dar a mão uma para a outra e trocar pensamentos e experiências.
MFC: O objetivo do blog é esse: fazer com que as mulheres que são mães se interessem por outras coisas fora a maternidade. Ainda vivemos em um mundo muito machista.Tem muito marido que ainda breca a mulher, então por esse e outros motivos, a gente mostra que é sim possível sair da caixa.
MR: Na verdade eu acho que não dá pra colocar a culpa em ninguém. Não dá pra colocar a culpa no marido. Se a mulher não trabalha porque o marido não quer, é ela que não quer trabalhar.
MFC: Com certeza, mas como ainda existe muito essa questão, e às vezes a cultura da família da mulher é assim também, achamos que ler coisas que motivem possa ajudar mulheres a despertar para algo novo e diferente do que elas vivem.
MR: Claro, com certeza! Uma amiga me disse outro dia que o marido dela vive reclamando, fala que o Saia Justa coloca coisas na cabeça das mulheres. Aí eu disse: Que ótimo, então estamos cumprindo com a nossa missão, o que a gente quer é isso mesmo, colocar coisas na cabeça das pessoas, queremos fazer as pessoas pensarem. A gente apanha muito, mas propor um modelo novo de igualdade e fazer pensar é por aí mesmo…é apanhar pra caramba.
MFC: A gente também apanha por aqui e com isso consegue ver que ainda existe muito machismo.
MR: Existe sim, todo mundo é um pouco, ou muito. Precisamos assumir isso para tentar melhorar. Eu mesma às vezes falo que homem não sabe cuidar de criança do jeito que nós mulheres cuidamos.
MFC: Acho que o que acontece é que muitas vezes a gente não libera para eles cuidarem e depois reclamamos dizendo que não sabem fazer.
MR: É exatamente isso, mas não temos que ter culpa, estamos andando, já melhorou muito. Minha mãe por exemplo, não trabalhava porque meu pai não queria, e era isso. Quantas mulheres são mal tratadas pelos maridos na frente de todo mundo né? Nossa, isso eu não consigo! Pra mim ninguém é pior nem melhor do que eu, nem homem, nem mulher, nem o Presidente da República. Eu não aceito ser tratada de uma forma…
MFC:Diferente?
MR: Nem diferente para melhor, nem diferente para pior. Tem que ser igual.
MFC: O que é para você ser Fora da Caixa?
MR: Eu sempre fui fora da caixa. Para mim é não ir conforme o rebanho. Eu sempre gostei de não me vestir como os outros, de não pensar como os outros. Isso na adolescência dói mais, aliás, ao longo da vida a gente paga o preço. As pessoas te olham estranho. Mas a melhor coisa é você ser fiel a você mesma, ao que você pensa. Então o pensar fora da caixa é saber que não existe um padrão pré determinado de pensar. Tipo: Homem é assim…., mulher é assim…., mãe é assim….. , gente, isso não existe. Sartre (Jean-Paul Sartre) nos anos 60 já dizia que não existe natureza humana, a gente que cria tudo o tempo todo, a gente leva a vida que a gente quer levar. Então eu procuro seguir esses preceitos do existencialismo. Daqui a 100 anos pode ser que as pessoas decidam andar peladas nas ruas. Pode ser que daqui a 100 anos as pessoas resolvam casar com 5 pessoas ao mesmo tempo. Alguém disse que é certo viver assim. Pode ser alguma religião, seu pai, ou a sua mãe, alguém nos disse. Mas quando a gente para pra pensar e discorda temos que refletir a respeito. E o blog fala muito disso, de você ser uma mãe impar que não segue modelos ou padrões.
Eu por exemplo acho muito chato brincar, sempre achei. No início me sentia muito culpada. Hoje eu já superei. As tias brincam, a vó brinca e eu desenho e conto história. Melhor a gente se conhecer, aceitar e parar de sentir culpa!
MFC: Como você faz na educação e no dia a dia com os seus filhos para eles absorverem essa questão tão importante que é a igualdade de gêneros?
MR: Em casa os papéis são bem misturados. O Caio cozinha por exemplo, eu não. Eu sou mais autoritária, e ele é mais flexível, ou seja, não seguimos muito os padrões, e acho que isso passa para os meninos.