Esse texto caiu como uma luva pra mim, meus filhos seguidamente, repetem a frase: “isso não é justo”, seja por uma divisão de guloseima, seja uma repreensão, uma briguinha entre eles…enfim nada nunca é justo…
Pesquisando sobre o tema, de como ensiná-los a lidar com esse senso de justiça, encontrei esse texto, que achei muito interessante e me fez refletir para saber agir da melhor forma com eles.
E com vocês também tem muita “injustiça” por aí?
“Tem um antigo conto árabe de que gosto muito. Ele relata a briga de três crianças amigas que, ao ganharem de um bondoso mercador uma porção de figos secos, não conseguiam fazer a divisão do presente ganho. A todo momento uma das crianças reclamava que seus figos eram menores que os dos outros, ou um dizia que, como ele era maior, merecia os maiores figos… A briga foi ganhando uma proporção gigantesca.
Eles estavam quase chegando a se agredir fisicamente quando um ancião passou pelos três e perguntou o que estava havendo. As crianças relataram todo o ocorrido e, percebendo o olhar sábio do idoso, decidiram pedir ajuda para resolver a situação.
O velho sábio, então, perguntou para os meninos se eles queriam que ele fizesse a divisão conforme as leis dos homens ou a de Deus. Em uníssono, eles responderem que queriam conforme a lei de Deus. O ancião pegou todos os figos, olhou para os três e começou a
divisão. Para um dos meninos, ele deu a maior parte dos figos, para o outro, um figo seco só e para último não deu nada. Os dois garotos, vendo o colega de mão cheia, começaram a gritar: “Isso não é justo!” e, em seguida, questionaram o porquê daquela divisão. O sábio respondeu que eles pediram a divisão conforme a lei de Deus, portanto, assim ele o fez, já que Deus dá para uns muito, para outros pouco e para os demais, nada.
Essa história me vem à cabeça sempre que ouço em casa minhas filhas falando: “Isso não é justo!”. É uma frase curta, mas que é repetida muitas vezes entre elas, quando discutem, ou dirigida aos pais quando tomam alguma decisão ou fazem algo que desagrada uma delas, ou ambas. E não só em casa essa frase é ouvida. Também ouço “Isso não é justo” em festas de aniversário, na casa de amigos que têm filhos, em ambientes que as crianças frequentam.
Como ensinar a justiça para nossos filhos? Que tarefa hercúlea ensinar justiça para as crianças num país tão, mas tão injusto quanto o Brasil. O que sei é que elas estão muito antenadas com o mundo ao seu redor e, se queremos que elas captem alguma essência sobre a justiça, temos de tomar cuidado com nossos discursos.
Lembro bem de uma mãe me relatando que tinha ido ao shopping comprar um presente com seu filho de 4 anos. Ao entrar na loja, a mãe escolheu o que queria comprar, mas, quando foi pagar, percebeu que havia esquecido a carteira no carro. Ao ouvir a mãe dizendo que havia esquecido o dinheiro para a atendente, ele rapidamente disse: “Não tem problema, você pode roubar o presente”. A mãe ficou assustada com esse comentário e perguntou de onde aquilo tinha saído. O menino, então, respondeu que seu pai sempre dizia que no Brasil todos roubam, portanto, ela também podia roubar.
A noção de justiça é bem complexa, porém, existem conceitos que podem ser assimilados pelas crianças. A justiça não pode ser apenas um discurso, mas uma prática. Há muitas pessoas que não roubam no Brasil e é preciso dizer isso para as crianças. Na minha casa, falo com certa frequência para as minhas filhas tentarem se colocar no lugar do outro para avaliar se houve ou não uma injustiça. Elas param, fazem cara de pensamento e, a partir daí, começa uma conversa muito instigante e provocadora de reflexões.”
Ilan Brenman é doutor em Educação e um dos principais escritores de literatura infantil do Brasil.